PARA VER ESTRELAS

Há quatro séculos, Galileu Galilei deu um passo revolucionário na ciência. Aliás, não um passo, mas um giro: o italiano ousou apontar um telescópio na direção do céu de Florença e acabou por observar o Universo exaustivamente, dia após dia, revelando com riqueza descritiva as crateras da Lua, os satélites de Júpiter e detalhes da Via Láctea.

Pois um de seus dois telescópios ainda existentes — instrumentos que quase lhe custaram a vida por desafiar os cânones científicos e religiosos vigentes até então — deixou a Itália e estará exposto, até setembro, no Franklin Institute, na Filadélfia, nos Estados Unidos, na mostra "Galileu, os Médici e a Era da Astronomia".

O evento é um dos muitos realizados mundo afora como parte da programação do Ano Internacional da Astronomia, uma iniciativa da União Astronômica Internacional (IAU) e da Unesco — veja mais em (http://www.astronomia2009.org.br) — para marcar os feitos de Galileu. Um dos pontos altos da comemoração em todo o mundo foram as "100 horas de astronomia", jornada de observação realizada semana passada, entre os dias 2 e 5.

Observatórios

No Brasil, o Observatório Nacional (ON), no Rio, terá uma vasta programação para marcar o ano comemorativo. Em agosto, a cidade sediará a assembleia geral da União Astronômica Internacional (IAU), que reunirá mais de dois mil especialistas.

Haverá atividades paralelas ao evento. No Largo da Carioca, por exemplo, serão instalados pequenos telescópios robóticos, e haverá transmissão de imagens do encontro em tempo real. O objetivo é aproximar a ciência do público.

— O céu permanece um mistério, e sua observação exerce um fascínio sobre as pessoas. Mas o astrônomo não é aquele velhinho barbudo embaixo da luneta. Isso não existe mais. Hoje, usa câmera, notebook, telescópio robô — comenta Carlos Henrique Veiga, chefe da Divisão de Atividades Educacionais do ON.

Brasil afora, é possível agendar visitas guiadas a lugares como o Observatório do Pico dos Dias do Laboratório Nacional de Astrofísica (http://www.lna.br), a 1.864m de altitude e a 37km da cidade mineira de Itajubá. À tarde, os turistas podem conhecer a estrutura do lugar e, se a Lua estiver acima do horizonte, observam-na por um telescópio.

Uma novidade que deve começar a operar este ano é o Projeto Impacton - Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteróides nas Cercanias da Terra no Observatório Nacional (http://www.on.br/impacton), em Itacuruba, no sertão pernambucano.

Na base, será instalado um telescópio robótico para monitorar asteróides e cometas em órbitas próximas da Terra e em possível rota de colisão com o planeta. O equipamento será controlado a 2.200km de distância, no ON, no Rio.

— Deverá haver ainda, em parceria com a prefeitura local, uma estrutura de visitação a dois telescópios menores, amadores — diz Veiga.

No exterior, a França combina belas paisagens a passeios para desvendar o mundo da astronomia. Vizinho a campos de lavanda, o Observatoire de Haute-Provence (http://www.obshp.fr), na cidade histórica de Saint Michel l'Observatoire, tem tours guiados à cúpula e ao único telescópio em atividade visitável no país. O passeio custa C 4,50.

Mas poucos lugares barram a beleza do observatório no cume do Pic du Midi, que tem, a seus pés, uma charmosa estação de esqui. O centro de pesquisa, especializado na atmosfera e em estudos do Sol, fica a 2.877m de altitude e tem uma vista de 360 graus para a cadeia dos Pirineus. O lugar abriga um museu sobre as galáxias, e hoje, recebe visitantes em seu alojamento para passar uma noite mais perto das estrelas.

São permitidas somente 19 pessoas por vez. No roteiro, filmes, palestras de astrônomos e observações em telescópios.

Nos Estados Unidos, o Samuel Oschin Planetarium, no Griffith Observatory (http://www.griffithobs.org), em Los Angeles, foi reinaugurado em 2006. Ganhou um novo domo e um moderníssimo sistema de projeção digital.

Entre os shows apresentados está "O telescópio mudou tudo", sobre como as observações de Galileu transformaram a compreensão do Universo.

Além de oferecer uma bela vista da cidade, o observatório, que foi cenário de passagens do filme "Juventude transviada", tem mostras multimídia sobre os planetas e uma balança que permite saber o quanto você pesaria na gravidade lunar.

No Havaí, o complexo de obser vatórios Mauna Kea (http://www.ifa.hawaii.edu) é atração na Big Island. Os turistas têm duas opções. Podem conhecer o centro de visitantes na base da montanha, com informações sobre as pesquisas feitas ali; uma loja de suvenires, e pequenos telescópios para ver as estrelas ao anoitecer.

Ou então podem subir, por conta própria, ao topo da montanha, a 4.200m, para ver as cúpulas mais de perto.

Sobral terá planetário

O Ano Internacional da Astronomia marca também os 90 anos da fotografia de um eclipse total do Sol por pesquisadores da Royal Astronomical Society, britânica, no município cearense de Sobral.

As fotos tiradas na cidade, e na Ilha de Príncipe, na África, em 29 de maio de 1919, comprovaram a teoria da relatividade de Albert Einstein, e mudaram a percepção do homem sobre o Universo (a história da expedição está contada no filme "Casa de areia", de Andr ucha Waddington, mas com uma mudança de cenário; nele, os cientistas realizam o experimento no Maranhão).

A data será marcada com a inauguração de um planetário, no complexo formado por um observatório (o maior do Norte e do Nordeste) e pelo Museu do Eclipse, que foi inaugurado em Sobral há exatos dez anos. O observatório é aberto ao público nas noites de sexta-feira e sábado.

O projetor, uma das partes do planetário, virá do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, e passará a ter tecnologia digital, num investimento de US$ 1,2 milhão.

Sobral terá ainda uma série de eventos para disseminar a importância do estudo dos astros. Em junho, por exemplo, o Encontro Regional de Astronomia oferecerá cursos populares e observação em telescópios em praça pública.
( Fonte: Ana Lúcia Borges e Isabela Martin, O Globo)
Extraido em http://www.boletimsupernovas.com.br/edicao/508/noticia/2384/BSN_para-ver-estrelas.htm

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