Anéis e montanhas
Saturno é o planeta dos anéis, ou pelo menos é o mais bonito deles (já que Júpiter, Urano e Netuno também os têm), e um dos objetivos da sonda espacial Cassini é justamente estudá-los. Pela aparência deles, temos a impressão de que os anéis se espalham como se fossem um disco e que seria impossível atravessá-los.
Bom, fácil não é. A Cassini já o fez quando estava se posicionando em órbita e eu me lembro de que os cientistas da Nasa estavam bastante apreensivos. Apesar do tamanho pequeno esperado para os pedaços de gelo e rocha que compõem os anéis, são previstos blocos do tamanho de pequenos ônibus. E trombar um instrumento como a Cassini em um ônibus de gelo não deve ser nada agradável.
Mas esses blocos são “apenas” ônibus pelo caminho. O que o pessoal da Cassini descobriu agora são verdadeiras montanhas sobre os anéis! Estudando pequenas luas de Saturno inseridas em lacunas estreitas entre os anéis, como a lua Dafne, com 8 km, que percorre a lacuna Keeler, de 42 km de largura, os astrômonos que estudam Saturno descobriram efeitos mais intensos do que o esperado.
Apesar de pequenas, luas como Dafne podem induzir efeitos gravitacionais intensos nas bordas dessas lacunas. Como suas órbitas são inclinadas em relação ao plano dos anéis existe também uma componente vertical das forças gravitacionais. Como efeito final, além de mudar a aparência dessas lacunas, deformando os anéis, a componente vertical deve agir “empilhando” material sobre os anéis. Isso tudo foi previsto em simulações, mas faltava comprovar. Essa comprovação depende de condições específicas de observação, que ocorrem a cada 15 anos, mais ou menos. Isso porque é preciso que a luz do Sol faça um ângulo pequeno com o plano dos anéis, passando bem de rasante. Assim, qualquer pilha de material vai provocar uma sombra longa e de fácil detecção. Fácil para a Cassini – da Terra isso nunca seria visto.
Então a hora é agora! Estamos justamente no equinócio em Saturno, época do “ano” (que por lá leva por volta de 30 dos nossos anos) em que o Sol cruza o plano dos anéis, fazendo com que essas condições aconteçam. Nesta semana chegaram as primeiras imagens obtidas nessas condições, e elas mostraram exatamente o que as simulações previam. Verdadeiras montanhas por sobre a borda de lacunas, lançando sombras por sobre os anéis. Essas aí, vistas na foto, têm por volta de 1,5 km de altura, pelo menos o dobro do que qualquer outra estrutura vertical já observada. Além disso, elas são pelo menos 150 vezes maiores que a espessura dos anéis principais A, B e C, que têm apenas 10 metros de largura. Aliás, nesta foto dá para ver a pequena Dafne mais redonda à esquerda.
Carolyn Porco, chefe da equipe da Cassini, destaca que o objetivo agora é encontrar luas nas outras lacunas dos anéis. Essa é uma questão que existe desde que a sonda entrou em órbita, mas que nunca foi respondida. Segundo Porco, elas estão lá, certamente, mas não foram vistas ainda por que são ainda menores do que se imagina
fonte: www.gea.org.br
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