OBSERVATÓRIO NACIONAL TRAÇA PLANOS PARA O FUTURO

O diretor do Observatório Nacional (ON), Sergio Luiz Fontes, que foi recentemente reconduzido ao cargo, fala sobre as suas prioridades para o novo mandato à frente da instituição.

Ele também faz um balanço da sua antiga gestão e lembra que o Brasil é um país privilegiado para os estudos de geomagnetismo.

Leia a entrevista concedida ao "Informe Abipti":

- Durante o seu discurso de posse, o senhor afirmou que graças à sensibilidade do governo federal com a área de C&T, foi possível praticamente triplicar o orçamento do ON. Qual vai ser o orçamento do observatório neste ano? Onde esses recursos serão aplicados?

O ON conta este ano com recursos da ordem de R$ 8,2 milhões do Tesouro Nacional, incluindo o orçamento propriamente dito e destaques recebidos do MCT. Prevemos que metade desses recursos serão aplicados nas despesas de manutenção (os denominados itens de funcionamento: energia, água, terceirização etc) e recuperação da infraestrutura predial. A outra metade será investida nas ações finalísticas do ON na área de astronomia, geofísica e metrologia de tempo e frequência. Também serão investidos recursos em quatro projetos estruturantes: Hora Legal Brasileira, Plataforma Nacional de Coleta de Dados Geofísicos, Astrosoft: sistema não supervisionado de alto desempenho para grandes bases de dados astronômicos e Impacton: monitoramento de objetos celestes potencialmente perigosos para a Terra. O ON conta ainda com mais de 60 projetos de pesquisa em andamento. O observatório também utilizará recursos da ordem de R$ 6 milhões em projetos desenvolvidos com a Finep e Petrobras.

- O observatório foi contemplado recentemente com o prédio Lélio Gama, que tornará a instituição referência mundial na área de geofísica. Quais projetos serão desenvolvidos nesse local e qual a sua importância?

Inicialmente temos três projetos de infraestrutura de pesquisa. Um deles é o Pool de Equipamentos Geofísicos, que envolve recursos da ordem de R$ 14 milhões e um número apreciável de sismógrafos, gravímetros e sistemas magnetotelúricos. Os equipamentos já se encontram no ON e diversos projetos já estão sendo beneficiados. O segundo projeto é a Rede Sismográfica do Sul - Sudeste do Brasil - projeto RSIS, que conta com recursos de R$ 6 milhões, oriundos da Petrobras, e é composto por 12 estações sismográficas terrestres, seis estações sismográficas a serem instaladas no fundo oceânico da Bacia de Santos e quatro estações sismográficas nas ilhas brasileiras, para o acompanhamento em tempo real da atividade sísmica da área mais populosa do país. Os equipamentos estão chegando ao Brasil nos próximos dois meses e até o final do ano algumas estações estarão em funcionamento. Esta rede será complementada por uma rede do Nordeste, a ser coordenada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e uma rede com estações distribuídas pelo interior do Brasil, que ficará sob a responsabilidade do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo. Caberá ao ON concentrar no novo prédio a recepção dos dados das três redes que cobrirá todo o país. A terceira iniciativa é a Rede Brasileira de Observatórios Magnéticos - projeto Rebom, que conta com R$ 670 mil da Finep. Hoje, o ON mantém dois observatórios magnéticos, o primeiro em Vassouras (RJ), desde 1915. O segundo está situado na Ilha de Tatuoca (PA), desde 1957. Implantaremos um total de sete observatórios magnéticos, contando com os dois existentes e os cinco novos, além de uma rede de 18 observatórios magnéticos itinerantes, que operarão em torno de dois anos em áreas selecionadas do território brasileiro. O Brasil é privilegiado para os estudos de geomagnetismo, pois encontramos no nosso território o eletrojato equatorial (região com variações diárias ampliadas do campo) e a anomalia magnética do Atlântico Sul (região onde o campo magnético terrestre tem a menor intensidade em todo o planeta). Vários estudos serão beneficiados com os três projetos citados acima. Em todos os casos, o potencial de ampliação do conhecimento geológico e geofísico no território brasileiro é imenso. São informações relevantes tanto do ponto de vista acadêmico quanto econômico. Dados sobre a evolução geológica, geotectônica e sobre recursos naturais serão o foco dos estudos.

- O senhor poderia fazer um balanço da sua primeira gestão no ON?

Nos quatro anos passados nossas prioridades foram a recuperação da infraestrutura física e de pesquisa e a implantação de mecanismos de gestão. Nesse sentido, fizemos a reforma de vários edifícios do campus, como a Casa Rosa, construção restaurada do século 19 para onde a direção se mudou e passou a atuar junto à administração. Também construímos o novo prédio de pesquisas para a geofísica, que foi inaugurado no dia da posse. Sobre a infra-estrutura de pesquisas, destacaria o Projeto Impacton, que resulta na instalação de um telescópio robótico no Estado de Pernambuco para o monitoramento de objetos celestes potencialmente perigosos para a Terra; a participação do ON nos consórcios internacionais Dark Energy Survey e Sloan Digital Sky Survey 3, para gerenciamento e desenvolvimento de ferramentas para grandes massas de dados astronômicos; e o convênio com o ESO para uso do telescópio de 2,2m em La Silla, Chile para missões de observação dos nossos astrônomos. Vários artigos científicos, dissertações e teses recentes já são frutos dessa última ação.

Entre outras iniciativas, foi ampliada a infraestrutura instrumental do Serviço da Hora com a aquisição de novos padrões atômicos e instrumentos de calibração. Todos os projetos em andamento nos últimos quatro anos representam investimentos da ordem de R$ 12 milhões da Finep e R$ 25 milhões da Petrobras. No que diz respeito à gestão, realizamos o Planejamento Estratégico e o Plano Diretor 2006-2010. Além disso, alcançamos sempre bons resultados no Termo de Compromisso de Gestão assinado anualmente entre o ON e o MCT e implantamos o SIGTEC – Sistema Gerencial de Acompanhamento Administrativo e de Projetos, desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCT). Teve ainda, em cooperação com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), a elaboração do Plano Diretor do campus, um instrumento que apresenta possibilidades para que as duas instituições possam planejar a expansão e diversificação de suas atividades, para o cumprimento de suas missões, diante das limitações impostas ao Campus ON-Mast pela sua condição de bem tombado.

- Quais são os principais desafios da instituição?

Prosseguir na busca por recursos orçamentários crescentes e na captação de recursos extra-orçamentários para promover o crescimento harmônico das três áreas de atuação do ON. Embora seja importante o investimento continuado na infraestrutura institucional, a prioridade deve ser o investimento em recursos humanos: novos concursos para pesquisadores, tecnologistas, técnicos e servidores de gestão, mais pós-doutores, pesquisadores visitantes, mais profissionais financiados por projetos, mais estagiários etc. Além disso, o ON deve ser vetor de desenvolvimento da pesquisa, ensino e de prestação de serviços, todos de excelência.

- O ON é uma das instituições filiadas à Abipti. Como o senhor avalia a importância da associação para a área de CT&I no país?

É fato bem conhecido que a produção científica brasileira vem alcançando crescimento admirável nos últimos 10 -15 anos, superando mesmo a maioria das nações desenvolvidas. Entretanto, a produção tecnológica, o aumento do número de patentes brasileiras não tem acompanhado o crescimento da produção científica. Embora seja uma instituição predominantemente acadêmica, o ON está participando do esforço de ampliar o desenvolvimento tecnológico do país, em sintonia com a missão da Abipti. As áreas de metrologia de tempo e freqüência e mesmo a geofísica podem dar contribuição importante.

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